quarta-feira, 27 de março de 2013


 Suicídio 



 Algumas horas se passaram, tudo está silencioso, meu coração está tão acelerado quanto um motor de carro, minhas mãos estão geladas, e meu corpo suando frio. Meu antigo e velho médico, que me acompanha dede quando pedia um sorvete no final de toda consulta abre a porta, sua expressão é indescritível, mas vejo uma ponta de tristeza no fundo de seu olhar.
  A janela ao meu lado mostra um lindo dia de setembro, as crianças estão radiantes, consigo ouvir o som do canto dos pássaros á milhas de distância, os jovens a essa altura começaram de novo os amores de verão. Eu deveria estar com eles, meus amigos que agora aproveitam as praias da Califórnia  tudo que sempre sonhei, viajar em meus pais e minha irmã caçula, ser dona dos meus dias, pelo menos durante o verão, mais agora já é tarde demais para qualquer coisa, mesmo jovem, sei que a vida me prepara o que, não pensei ter que enfrentar, pelo menos não tão cedo.
 Tudo começou com um simples desmaio, tudo girava, e meu corpo era tão leve quanto uma pena ao vento, quando acordei havia uma multidão ao meu redor, só consegui avistar o meu armário depois disso. Com o passar dos dias notei algo diferente, não no meu corpo, era uma espécie de sexto sentido que pressentia algo ruim, eu sentia todos os pelos dos braços se arrepiarem durante a noite, quando estava na sacada do meu quarto observando a lua, me despedia daqueles dias sem nem saber o porquê, só sentia, temia algo desconhecido  e dizem que o pior dos medos é temer algo que desconhece, é não ter o controle sobre nada. 
 Naquelas noites em clara pensava em quanto o tempo valia, qual era o significado do relógio, e quando o meu pararia de bater, eu tinha medo do que me aconteceria, mas a morte não me amedrontava mais, abraça-la seria apenas me deitar em uma rocha com a visão da lua e o som do mar, sabendo que nunca mais teria que voltar, estaria livre em um mundo meu, tudo era meu, o controle, as flores brancas, a escuridão, o som do piano invadindo meus ouvidos para todo sempre, viver em estado de estase, tudo aquilo que sempre esteve em minha alma escondido como um sonho de verão,sonho que nunca mais irei realizar.
 Minhas vestes azul não se parecem com o céu, minha pele agora é pálida, parecida com o luar durante o inverno, a neve cai dentro do meu corpo, tudo é escuridão, de repente mais nada precisa ser dito, definitivamente sei que acabou, as amostras de sangue de nada adiantarão, decido que insistir não é a coisa certa a fazer porque realmente a única coisa que quero é sair daquele hospital e passar o resto do dia no meu café predileto, peço meu cappuccino de canela e meu croissant de queijo, pretendo não terminar minha vida infeliz como vivi, excluo todos os meus blues da minha playlist, tiro os sapatos e compro um autêntico vinho francês, já certa de que beber não seria problema.
 Minha casa agora não é mais um lar e sim o cenário de meu futuro velório, então decido passar na minha antiga e abandonada casa da árvore, não ia lá desde pequena, e lembro-me deste lugar como o ultimo em que fui feliz, realmente feliz, ela ainda está intacta mesmo com toda a maresia e com todos os vendavais de dezembro. Está escuro agora e a bateria do meu celular já não funciona, saio da minha toca, como uma lagarta sai daquelas maçãs dos desenhos animados,  noite é tão linda quanto o dia, descubro então minha morte, como nos meus sonhos mais sombrios, tudo está lá, as rochas, a lua, o mar, e minha alma gritando pelo suicídio, as lágrimas já estão secas e, em meu ultimo bilhete pedi que não chorassem, pois de certa forma estava estranhamente feliz, enfim descobriria minha profunda tristeza, aquele que nunca me abandonou, e como num piscar de olhos abraço, finalmente abraço o anoitecer e agora sei, é para sempre!